segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Discografia: "Divina Saudade" (2000)



Em 2000, depois de cinco anos ausente dos estúdios, Zezé Motta lança o CD "Divina Saudade", interpretando o repertório de Elizeth Cardoso (1920-1990), com arranjos e produção musical de Roberto Menescal e Flávio Mendes.

O disco, com 16 faixas, foi lançado pela gravadora Albatroz, de Roberto Menescal. De forma indireta, foi o escritor e jornalista Sérgio Cabral o responsável pelo tributo de Zezé. Cerca de um ano antes, ela leu a biografia de Elizeth escrita por Cabral e descobriu os traços em comum com a Divina.

"Fiquei impressionada com detalhes da vida dela que coincidem com coisas que vivi", disse Zezé em uma entrevista. "Um dia, acordei, passei pela estante e o dei de cara com o livro; foi uma uma coisa mágica. Nessa hora, eu pensei: por que não a Eliseth?", lembrou a cantora.




Uma das primeira atitudes de Zezé foi ligar para Paulo César Valdez, filho e único herdeiro de Eliseth. "Ele me deu seu ´axé´ e disse que ela gostaria muito de ser homenageada por mim porque também era minha fã", contou Zezé.

À medida que começou a vasculhar o universo musical de Eliseth, Zezé fez emergir uma série de lembranças e novas afinidades com a Divina. O primeiro encontro entre as duas, por exemplo. "Foi num espetáculo em homenagem a Herivelto Martins, no Rio, reunindo quatro ou cinco cantores, entre eles Peri Ribeiro, eu e Elizeth. Na época achei um enorme privilégio participar de um show ao lado dela", disse Zezé, que se impressionou com a simplicidade de Elizeth. "Conversamos muito rápido, mas parecia que nos conhecíamos havia anos; ela até me falou sobre seu momento afetivo."

Ambas foram crooners em boates, Elizeth no Rio e Zezé em São Paulo. "Cantei no Telecoteco e no Balacobaco por quatro anos, até desistir porque achava que ninguém me descobriria", contou ela. "Há outras semelhanças, como os olhos fechados quando sorrimos, a meiguice e a simplicidade, coisa da qual me orgulho sem modéstia, pois não consigo ter essa atitude de diva; não tenho nada contra a vaidade, mas sou uma operária da minha profissão."

O responsável pelo "perfil" de Divina Saudade foi Roberto Menescal, que selecionou o repertório a partir de aproximadamente 300 músicas. O critério de escolha das faixas foi perpassar épocas e nomes fundamentais da música brasileira, de Pixinguinha, Noel e Haroldo Barbosa, passando por Baden Powell, Tom e Vinícius de Morais (Chega de Saudade). Aliás, a canção-chave da bossa nova quase foi excluída do repertório não fosse a lembrança de Menescal. "Ele disse que era uma música obrigatória, já que foi o primeiro sucesso de Vinícius e Tom na voz de Elizeth", disse Zezé. "Mas foi um sofrimento ter de escolher 16 músicas num universo de quase 300."

O repertório de Divina Saudade é composto ainda por pérolas como Tudo É Magnífico (Haroldo Barbosa/ Luiz Reis), Prece (Vadico/ Mariano Pinto), Nossos Momentos (Haroldo Barbosa/ Luiz Reis), A Noite do Meu Bem (Dolores Duran), Feitio de Oração (Noel Rosa/ Vadico), Consolação (Baden Powell/ Vinícius de Morais), Tem Dó (Baden Powell/ Vinícius de Morais), Tristeza (Haroldo Lobo/ Niltinho), Amor e a Rosa (Pernambuco/ Antônio Maria), Noites Cariocas (Jacó do Bandolim/ Hermínio Belo de Carvalho), Lamento (Pixinguinha/ Vinícius de Morais), Barracão (Luiz Antônio/ Teixeira), Samba Triste (Baden Powell/ Billy Blanco), Molambo (Jayme Florence/ Augusto Mesquita) e Estrada Branca (Tom Jobim/ Vinícius de Morais).

Após o lançamento do álbum, Zezé realizou show homônimo por diversas cidades do Brasil. Em julho de 2002, apresentou o espetáculo no Canecão, no Rio de Janeiro.


Crítica

Zezé Motta derrama seu timbre grave e bem dosado em Divina Saudade, um CD-tributo a Elizeth Cardoso, que nos deixou em 1990. Apesar de não ser uma intéprete tão visceral quanto a Divina, ela releu de forma elegante e correta seu repertório. O melhor do álbum fica por conta da produção. É chique - a começar pelo belo projeto gráfico, com Zezé posando como cantora dos anos 50 - e com arranjos econômicos de Roberto Menescal e Flávio Mendes (ambos também produtores do CD), melhores do que os das últimas produções da Albatroz. Que ninguém espere por uma moldura eletrônica ou por acabamento influenciado pelo pop londrino. É um disco de MPB, digamos, de raiz. Porém, não é rançoso. Traz uma gostosa nostalgia, mas sem cheiro de naftalina. O repertório engloba as várias fases da carreira da Divina. Do marco inicial Canção de Amor, passando pelo emblemático álbum Canção do Amor Demais (Estrada Branca, Chega de Saudade), chegando aos sambas envenenados de Baden & Vinicius (Consolação e Tem Dó), sem omitir seus lados chorona (Noites Cariocas, Lamento), sambista (O Amor e a Rosa, Tristeza) e romântica deslavada, bem anos 50 (Nossos Momentos e a kitsch Tudo É Magnífico). Mesmo sem terem sido celebrizadas por Elizeth, A Noite do Meu Bem e Molambo foram incluídas no repertório. A primeira com delicioso arranjo bluesy e a segunda num clima bossa light. Em ambas, a guitarra de Menescal está mais Barney Kessel do que nunca. Cool total. É claro que Zezé não supera Elizeth nas interpretações (e nem seria esta a intenção). Em algumas faixas, a cantora é contida demais. De qualquer forma, é um tributo bem feito, que deve crescer muito no palco.

(Rodrigo Faour)



Fontes de Consulta: O Estado de São Paulo - 28 de Agosto de 2000, Site Cliquemusic.

Um comentário:

  1. gente como faço para baixar os cd's da zezé, pois comprar ñ tem como. ronaldo araujo (jornalarte@terra.com.br) abraços

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