segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Livro dá voz a 13 (dissonantes) cantoras negras, incluindo Zezé Motta



Resenha por Mauro Ferreira (Blog Notas Musicais - 26/10/09):

"Posso até cantar um samba e canto mesmo - mas quando eu quiser cantar, não porque querem que eu cante", situa Leila Maria em sentença lapidar do depoimento para o jornalista e historiador Ricardo Santhiago, autor do ótimo livro Solistas Dissonantes - História (Oral) de Cantoras Negras. Lançado neste mês de outubro, como resultado de um curioso trabalho de pesquisa desenvolvido pelo autor entre 2006 e 2009 para um trabalho de pós-graduação da USP, o livro traz à tona - através de relatos orais de 13 cantoras negras brasileiras - mágoas, devoções e crenças de excelentes intérpretes que desafiaram lei extra-oficial do mercado fonográfico que confina solistas negras aos guetos do samba, do funk ou de qualquer outro ritmo enquadrado no rótulo "negro". Poucas cantoras, como a divina Elizeth Cardoso (1920 - 1990), conseguiram construir carreira regular fora desse enquadramento pautado por um racismo disfarçado.

O relato desencanado de Zezé Motta - cantora e atriz desde a década de 70, mas hoje mais atriz do que cantora - tem seu ponto nervoso quando a artista lembra a pressão que sofreu da gravadora Warner Music para gravar sambas em seu segundo disco, Negritude (1979), já que o primeiro, Zezé Motta (1978), não obtivera o resultado comercial esperado diante da exposição de Zezé como atriz no filme Xica da Silva (1976). "Esperneei, mas no disco Negritude topei gravar alguns sambas. Mesmo assim, sempre rejeitei o rótulo de sambista - não porque tivesse algo contra o samba, mas porque sabia que a gravadora queria que eu gravasse samba por ser negra. Eu achava isso, vamos dizer, meio estranho. Parecia uma ditadura com o artista negro", lembra Zezé, superior".




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