A atriz superou o preconceito racial para vencer na profissão, casou cinco vezes, adotou cinco filhas e 25 anos depois ainda é marcada por Xica da Silva
Uma semana antes de começar a gravar as primeiras cenas como a mãe de santo Ricardina, em Porto dos Milagres, Zezé Motta cumpriu um ritual. Foi até seu pai de santo pedir licença para interpretar a personagem.
Ele lhe recomendou que fizesse oferendas a Oxum, seu orixá protetor, e a Iemanjá, sua protetora na novela da Globo. Ela cumpriu à risca. Numa praia deserta no Rio, atirou flores, perfumes e champanhe ao mar e cantou uma música em homenagem a Oxum.
A precaução foi tomada porque há quase 10 anos, quando fez o mesmo papel na minissérie Mãe de Santo na extinta TV Manchete, Zezé não pediu autorização e acredita que sofreu as conseqüências disso. Esquecia o texto e chegou a passar mal no estúdio. Desta vez, não quis correr riscos. Mesmo contando com a orientação de Téo, pai de santo contratado pela produção da novela para auxiliar os atores, Zezé preferiu se cercar de cuidados. “Queria ir à Bahia conversar com mãe Estela, minha mãe de santo. Não deu, mas fiz tudo direitinho”, acredita.
Zezé Motta, 56 anos, agora se divide entre as gravações da novela e os shows do CD Divina Saudade, lançado no início de março em homenagem à cantora Elizeth Cardoso. “Parece um sonho depois de tanto tempo sem gravar”, diz ela, que ficou cinco anos longe das gravadoras. Conseguir retornar ao estúdio foi apenas uma das muitas batalhas que enfrentou em 32 anos de carreira. Logo no início, sentiu na pele o preconceito racial. “O negro só percebe o preconceito no Brasil quando tem condições de competir com o branco”, diz.
Uma das piores histórias de racismo da atriz aconteceu há alguns anos ao visitar um amigo num prédio da Zona Sul do Rio. Foi impedida pelo porteiro de subir pela entrada social. Indignada, enfrentou-o e subiu. O funcionário não se deu por vencido: desligou o elevador e ela ficou presa por alguns minutos. Ele só voltou a ligá-lo quando a atriz já estava aos gritos. “Foi uma humilhação”, resume. Quando chegou ao térreo, passava mal. Foi um longo período na terapia para superar o trauma. “Ainda tenho claustrofobia num nível absurdo”, conta.
Na adolescência, Zezé Motta já sofria com o racismo. “Minhas amigas diziam que meu cabelo era duro, minha bunda grande e meu nariz chato”, lembra. “Alisava o cabelo e lia tudo para saber se existia operação para diminuir a bunda.” Pensou em usar lentes de contato verdes depois de ver uma atriz mulata num filme de Fellini. “Achava que ela só tinha conseguido o papel por causa da cor dos olhos.”
Era só o começo. Filha de um músico que trabalhava como motorista de ônibus para aumentar o orçamento e de uma costureira, Zezé batalhou muito antes de ser reconhecida como atriz. Chegou a morar na casa de Marília Pêra, em São Paulo, por não ter dinheiro para pagar o aluguel. Estavam encenando a peça Roda Viva. “Fiquei desanimada e pensei em desistir e voltar para o Rio e trabalhar como contadora”, recorda.
A amiga a fez mudar de idéia. Hoje são comadres. Zezé é madrinha de Nina, uma das filhas de Marília. “Vivíamos grudadas, parecíamos irmãs xifópagas”, diz Marília Pêra. “Zezé é uma grande artista, ai de quem falar mal dela, a defenderei com unhas e dentes”, afirma a comadre.
Os tempos difíceis ficaram no passado. Zezé Motta virou o jogo ao ser convidada pelo diretor Cacá Diegues para interpretar Xica da Silva. O filme, lançado há 25 anos, rende dividendos até hoje. “Posso dividir a minha vida em antes e depois de Xica da Silva”, diz a atriz. “Tinha consciência de que nunca mais ia ter um papel como aquele.” De repente, a menina de família humilde que viveu num colégio interno dos seis aos 12 anos, passou a ser tratada como rainha. “ Eu parecia voar de tanta emoção”, conta.
Símbolo sexual
Em pouco tempo, foi alçada à categoria de símbolo sexual. Era cortejada, namorou bastante e sofreu o estigma de ter interpretado uma mulher tão marcante. Lembra que os homens se aproximavam desejando a personagem. “Achavam que eu ia ser a grande transa da vida deles”, diverte-se. “Fiquei com o compromisso de ser um mulherão na cama. Fazia tanta mise-en-scène que eu mesma não sentia prazer.” Neste período, precisou recorrer ao analista. Certa vez precisou descer de um táxi em movimento ao perceber que o motorista tentava acariciar suas coxas.
A página só foi virada quando a atriz se casou com o arquiteto Marcos Palma. Foi a primeira de uma série de cinco uniões. Agora, está casada há oito meses com o editor de livros Osmar Rodrigues. “Está ótimo, espero que seja para sempre.” Ela se diverte ao constatar sua fama de casamenteira. E não é a única em sua família. Sua mãe, Maria Elavir, se casou três vezes. A última, aos 66 anos. “Gosto de me dedicar a uma pessoa, de ter companhia para ir ao teatro, ao cinema ou para jantar”, justifica.
A atriz não gerou filhos. Com útero infantil, perdia o bebê no terceiro mês de gravidez. Fez tratamento para dilatar o útero, mas quando recebeu aval para engravidar estava com 39 anos e no fim de seu penúltimo casamento. Zezé não transformou isso numa tragédia. Adotou cinco meninas: Luciana, hoje com 32, Nadine, 24, Sirlene, 21, Carla, 21, e Cíntia, 18. “Sou bem resolvida porque tenho cinco filhas do coração.” As meninas também não têm do que reclamar. “Ela é uma supermãe,”, derrete-se Carla. Zezé acaba de estrear num novo papel: é avó de Heron, filho de Sirlene, sobrinha que criou como filha.
Istoé Gente - 16/04/2001
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ResponderExcluirCara Zeze motta. Minha querida uma vez quando eu era pequena voce foi almocar com seu namorado na casa do meu pai o nome dele e edson dos anjos filho de olegaria dos anjos primeiro destaque do imperio serrano. Nos moravamos em vaz lobo... me mande um alo por e mail. Vejo o seriado mae de santo quase toda semana, hoje eu moro na noruega... Mas adoro seu trabalho... Sucesso!
ResponderExcluirlinda e comovente história!
ResponderExcluirgostaria de conhecê-la pessoalmente, e ouvir mais histórias como estas! adoro e preciso de histórias de reviravoltas, pra ver se ainda consigo fazer a minha!
bjs