Faz tanto tempo que Zezé Motta não canta em Belo Horizonte... Ao ser perguntada quando foi seu último show aqui, diz não se lembrar. "Tenho a impressão que nem cheguei a fazer o ‘Divina Saudade’ (show baseado no CD homônimo, dedicado a Elizeth Cardoso) em Belo Horizonte. E olha que estou fazendo esse trabalho há seis anos", conta, enquanto dá uma risada. Pois os fãs dessa atriz e cantora consagrada tiveram oportunidade de revê-la no último domingo (5), no parque municipal, como atração do projeto Sesc MPB.Com, ao lado de Maurício Tizumba.
No show, ela fez um apanhado dos discos que gravou. Além do repertório do último, "Divina Saudade", vai cantou aquelas que o "público gosta de ouvir": "Senhora Liberdade", "Dores de Amores" e "Magrelinha" são algumas delas. "A praia da Elizeth era a música romântica. Como era um show ao ar livre, não posso fazer algo tão romântico. Não combina com o clima. Peguei então algumas coisas animadas que Elizeth gravou, como ‘Mulata Assanhada´ e ‘É Luxo Só´, e incluí alguns dos meus sucessos", conta.
Novela da Globo
Este ano, Zezé Motta vai precisar se desdobrar para dar conta dos projetos. Foi convidada pelo diretor Jorge Fernando e pelo autor Walcyr Carrasco para participar da próxima novela das sete da Rede Globo, "Caras & Bocas". Revela que ainda não sabe nada sobre o personagem. "Só entro no capítulo 60. Como eles foram gravar na África do Sul, fiquei sem contato. Só vou saber algo do personagem quando a novela estrear. Mas já tive uma dica: uma pessoa da direção de arte encomendou uns acessórios afros para o meu personagem (risos)", diz.
Além da novela, Zezé vai estar no próximo filme de Xuxa, "O Mistério da Feiurinha". "É a terceira vez que trabalho com ela (Xuxa). Este filme é baseado num livro que está fazendo muito sucesso nas escolas. Nele, o autor juntou todas as princesas: Branca de Neve, Rapunzel, Gata Borralheira. A história faz uma visita a elas já casadas, com filhos. É muito divertido. Foi a própria Sasha (filha de Xuxa) que descobriu esse livro na escola e sugeriu à mãe para fazer o filme".
Além da atriz, a cantora prepara sua volta ao mercado fonográfico. No segundo semestre, grava o CD e DVD "O Samba Mandou me Chamar. "É um projeto de quatro anos. Eu estava na fila da gravadora Biscoito Fino. Ele ia ter inclusive a supervisão da Maria Bethânia. Mas Bethânia começou um trabalho, saiu viajando pelo mundo e abriu mão da supervisão. Agora fechei com a (gravadora) Rob Digital. Eles gostaram. O produtor vai ser o Paulão Sete Cordas, o mesmo de Zeca Pagodinho. O cara é pé-quente. Minha primeira ideia era fazer um disco de releituras. Mas recebi muito material inédito e mudei o foco. Estou com música de Nelson Sargento, Paulo César Pinheiro, Altayr Velloso, Serginho Meriti, Marquinhos PQD, Sérgio Procópio... Por aí vai (risos)".
Leia abaixo a entrevista na íntegra com Zezé Motta:
Jornal Pampulha: Há muito tempo você não canta em Belo Horizonte. Tem idéia de quando se apresentou aqui pela última vez?
Zezé Motta: (risos). É verdade. Estou animadérrima. Faz tanto tempo que não me lembro. Sinceramente não me lembro. Eu tenho a impressão que eu nem cheguei a fazer o "Divina Saudade", esse trabalho em homenagem a Elizeth Cardoso. Eu tenho a impressão que eu não fiz em Beagá. Olha que estou rodando com esse trabalho há seis anos. Se eu fiz em alguma festa privada. Mas eu estou tão esclerosada. Estou desde ontem (segunda-feira) pensando qual foi a última vez que fui a Belo Horizonte. Só olhando nas minhas agendas, que guardo, velhas (risos).
Jornal Pampulha: O que você está preparando para o show?
Zezé Motta: Eu vou fazer um apanhado dos meus discos. Eu estou há seis anos sem um trabalho novo. O último trabalho foi o "Divina Saudade". É um trabalho belíssimo, mas eu tenho a frustração de que foi mal distribuído. Eu consegui fazer "Hebe Camargo", "Sem Censura", "Jô Soares", todos os programas de audiência, mas aí depois as pessoas não encontravam nas lojas. Infelizmente. Isso acontece. Então, mas esse disco é um trabalho muito romântico. Mais de 50% do CD é música romântica porque era a praia da Elizeth Cardoso. Mas tem as coisas também animadas, que Elizeth também gravou: "Mulata Assanhada", "É Luxo Só", "Barracão"... Eu peguei as coisas mais animadas do "Divina Saudade", porque o show é o ar livre, não pode ser um show tão romântico, senão não combina com o clima. Mas vai ter alguma coisa romântica porque sou romântica (risos). Mas é um mix. Eu tenho umas seis músicas desse último projeto e tenho aquelas músicas que eu sei que o público gosta de ouvir, que vão pedir e que não tem jeito, tem que cantar: "Senhora Liberdade", "Dores de Amores", que a galera não dispensa, o "Malegrinha", do Luiz Melodia. É um mix. Tem uma ou duas músicas de cada álbum meu.
Jornal Pampulha: Você está voltando para a TV agora. Foi convidada para participar da próxima novela das 19h da Rede Globo ("Caras & Bocas"). Qual vai o personagem na novela?
Zezé Motta: (risos) Eu não sei nada sobre o personagem. Eu só sei que o Jorge Fernando (diretor) me convidou, e o Walcyr Carrasco (autor). São duas pessoas que eu admiro e confio. Eu não sei nada porque a novela já está sendo gravada, mas o meu personagem entra só no capítulo 60. Como eles foram lá para a África do Sul para gravar, ficamos sem contato. Eu acho que só vou saber de fato alguma coisa do personagem quando estrear a novela em abril. É quando o Jorge e o Walcyr vão ficar mais tranquilos para a gente poder conversar sobre meu personagem. Agora, eu já tive uma dica: uma pessoa da direção de arte encomendou uns acessórios afros para o meu personagem (risos). Eu nem sei ainda o nome do personagem. Vai ser um ano bem agitado pra mim...
Jornal Pampulha: Quais são seus outros projetos para este ano?
Zezé Motta: Eu vou fazer o próximo filme da Xuxa. Vou trabalhar com ela pela terceira vez. Nós fizemos "Duendes 2" e há três anos fizemos "A Cidade do Tesouro Perdido". Foi uma participação muito bonita. O filme abria comigo e o Milton Gonçalves perdidos procurando a tal da cidade. Foi uma homenagem bonita. Agora, a Xuxa vai fazer o "Mistério de Feiurinha", que é um roteiro muito interessante. É baseado num livro que está fazendo muito sucesso nas escolas. Nele, o autor juntou todas as princesas: Branca de Neve, Rapunzel, Gata Borralheira. E a história faz uma visita a elas já casadas, com filhos. É muito divertido. Foi uma história que a própria Sasha descobriu na escola, sugeriu, e é muito boa.
Jornal Pampulha: Qual vai ser seu papel?
Zezé Motta: Nesse eu sei (risos). Tem um personagem que vai ser feito pelo Antonio Pedro. Eu sou meio que assessora dele. Eu meio que conto a história junto com ele. E aí tem um mistério que eu vou desvendar que eu não posso cantar porque meio que o final do filme (risos). Eu sou co-narradora, assessora do escritor da história que é o Antonio Pedro.
Jornal Pampulha: E quais seus outros projetos?
Zezé Motta: Vou lançar um CD e DVD. Não sei aonde vou arranjar tempo pra tudo isso (risos). Vai se chamar "O Samba Mandou me Chamar". Esse é um projeto de quatro anos. Mas eu estava sem gravadora. Eu estava na fila da Biscoito Fino. Ia ter inclusive supervisão da Maria Bethânia. Aí, ela começou um trabalho, saiu viajando pelo mundo, abriu mão da supervisão e me falou pra ir em frente. Mas não rolou. Agora vou gravar pela Rob Music. Dessa vez está sacramentado. Eles gostaram do projeto. Já vou conversar em abril com o produtor, que vai ser o Paulão Sete Cordas, o mesmo produtor de Zeca Pagodinho. O cara é pé-quente (risos). Estou super-animada. As pessoas ficam me perguntando como dou conta de tanta coisa (risos).
Jornal Pampulha: Como?
Zezé Motta: Eu acho que é uma questão mesmo de você ter uma boa equipe, um bom empresário e muita disciplina. Eu, por exemplo, meu dia rende muito porque eu acordo muito cedo. Todos os dias, às seis da manhã, eu pulo da cama (risos). No máximo, sete horas. A não ser quando eu faço show mais tarde, aí muda tudo.
Jornal Pampulha: Voltando ao "Samba Mandou me Chamar". O repertório será só de inéditas?
Zezé Motta: A primeira idéia era de fazer releituras. Mas eu comecei a receber tanto material bom inédito, que eu mudei o foco. Agora vou conversar com o novo produtor. Talvez tenha uma releitura. Mas ainda não sei.
Jornal Pampulha: Quem te mandou material inédito?
Zezé Motta: Nós fizemos uma feijoada, há quatro anos, para 200 pessoas. Convidamos todos os compositores de samba do Rio de Janeiro. E eu fiquei muito emocionada porque quase todos compareceram, a não ser os que estão viajando, com algum impedimento. Estou com música de Nelson Sargento, Paulo César Pinheiro, Altayr Velloso. Tem também uma galera mais jovem, como Serginho Meriti, Marquinhos PQD, Sérgio Procópio, por aí vai (risos). Está bem recheado. O DVD vai ser pelo Canal Brasil. Ainda não tenho data, mas com certeza será no segundo semestre. A gravação vai ser no teatro Rival.
Jornal Pampulha: Pensou em convidados?
Zezé Motta: Tudo isso vou ter que sentar e discutir. Pensei em Emílio Santiago, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila... Mas não tem nada decidido. Depende muito da agenda de cada um.
Jornal Pampulha: Tem saído nos jornais que a Taís Araújo vai ser a primeira protagonista negra de uma novela de horário nobre da maior emissora do país (na novela "Viver a Vida", de Manoel Carlos). O que você achou disso?
Zezé Motta: Eu vibrei. Eu fico muito feliz com essa notícia e duplamente emocionada até porque há 30 anos que luto por isso. Enquanto militante do movimento negro e presidente da Cidan (que é o Centro de Informação e Documentação do Artista Negro) estou nessa expectativa faz algum tempo. Para mim, é uma coisa emocionante porque já há algum tempo o Gilberto Braga (autor de novela) tentou que eu fosse protagonista de uma novela dele, mas no meio do caminho a sinopse não foi aprovada. Mas não precisa ser eu. Não importa. O importante é a gente ter uma atriz negra. Não precisa ser a Zezé Motta. Mas eu me lembro que naquela época fiquei muito frustrada. Isso foi em 1984. Aí, ele escreveu (a novela) "Corpo a Corpo") e me deu um papel de destaque. Eu fazia uma paisagista, que causou bastante polêmica... Agora, tenho certeza que a Taís vai fazer um belo trabalho porque ela é muito boa atriz.
Jornal Pampulha: Na época de "Corpo a Corpo" alguns telespectadores chegaram a criticar o fato de um branco (o personagem do ator Marcos Paulo) estar se relacionando com uma negra. Alguns sugeriram ao ator lavar a boca com água sanitária depois de te beijar em cena. Como foi aquilo?
Zezé Motta: Foi uma coisa muito violenta. Foi feita uma pesquisa na época sobre o que as pessoas achavam daquele casal mutirracial. E as reações foram inesperadas para todos nós: para o autor, para mim e para o próprio Marcos Paulo. O Marcos chegava em casa e encontrava recados horrorosos na secretária eletrônica dele, perguntando qual era a dele de estar passando por aquela humilhação. Teve um rapaz que disse não acreditar que o Marcos Paulo estivesse tão necessitado de dinheiro para se submeter àquilo.
Jornal Pampulha: Mas você acha que melhorou, o negro tem papel de destaque nas novelas?
Zezé Motta: As coisas estão mudando, sim. Devagarinho, mas estão. Essa coisa também de papéis diversificados é fundamental. Até para trabalhar não só a auto-estima da comunidade negra, mas também para o público se acostumar. Às vezes, o público estranha. Não foi a primeira vez que o público rejeitou um casal multi-racial. Lá atrás, eles já tinham rejeitado um casamento do Zózimo Bubu, na extinta TV Tupi, com Leila Diniz. A TV Tupi mudou o enredo e o Zózimo teve que casar com a Evita Nascimento. Essa estranheza é a própria mídia que impõe. Mas as coisas estão mudando. Eu já percebo que os autores estão preocupados em diversificar papéis. Eu mesmo já fui empresária, dona de casa... Essa coisa agora de o negro ter uma família nas telenovelas é um avanço. Antigamente, os personagens negros viviam a reboque dos personagens brancos, e eles não tinham uma história. Eles não tinham família, não tinham pai, mãe, filho, marido...
Jornal Pampulha: Mas e, em termos de preconceito na sociedade. Você tem notado avanços ou tem consciência de que as portas se abrem para você, uma negra, só porque é a Zezé Motta?
Zezé Motta: Eu tenho essa consciência. Essa questão no Brasil é uma mancha horrorosa de séculos e que não se apaga assim, com facilidade. Eu acho que a gente vai ter aí algumas gerações para resolver isso. Ainda mais que é um racismo velado. É muito complicado.
Jornal Pampulha: Mas, no seu caso, qual foi o episódio mais traumático?
Zezé Motta: São tantas histórias. Já tive comercial rejeitado pela loja. A agência me escolheu, a loja me pagou, mas o outdoor não foi para a rua. Eles disseram que a clientela da loja era classe média, e que a classe média era preconceituosa, e não ia aceitar a sugestão de uma negra. Nas relações afetivas isso também é muito complicado. Já tive problemas de ter um namorado branco e a família aceitar porque eu era amante, concubina, ou sei lá que nome eles quisessem dar... Morávamos juntos, e o rapaz quis oficializar a relação, mas a família criou o maior rebu. Já me apontaram o elevador dos fundos... É complicado.
Jornal Pampulha: Na sua trajetória, o seu papel mais importante foi mesmo "Xica da Silva"?
Zezé Motta: Sem dúvida. "Xica da Silva" foi um divisor na minha vida e na minha carreira. Até hoje as pessoas comentam. Tem gente que chega para mim e fala que a Taís (Araújo, que viveu a personagem numa novela da extinta TV Manchete) fez muito bem, mas que a Xica sou eu (risos). Realmente foi um marco. É um personagem muito forte, muito carismático. Você vê que o personagem mudou a vida da Taís também.
Jornal Pampulha: E, curiosamente, Xica era uma mineira...
Zezé Motta: Pois é. Por conta desse personagem muita gente pensa que sou mineira.
Jornal Pampulha: Este ano você completa 65 anos. Como lida com essa questão do tempo?
Zezé Motta: De bem com a vida. Mas é uma coisa também muito característica do negro. Meu avô materno morreu com 70 anos sem nenhuma ruguinha. A minha mãe tem 85 anos e é uma menina (risos). É animada, disposta, faz hidroginástica, vai a igreja todos os dias, caminha, faz parte de grupo de terceira idade. Eu vou na cola dela porque eu quero ficar bem como ela está aos 65 anos. Mas confesso que eu tinha umas bolsas que herdei da minha mãe, tinha um inchaço nas pálpebras. Essas bolsas me envelheciam e me davam um ar de cansaço. Eu já me liberei delas. Porque agora com a TV digital a gente tem que ficar atenta. Mas eu cuido da saúde também. Eu moro na lagoa, caminho fim de semana, oito quilômetros, dou a volta inteira na lagoa, faço pilates, faço dieta e por aí vai...
Jornal Pampulha: Você é religiosa, acredita em Deus?
Zezé Motta: Eu sou kardecista e tenho dito que a minha religião é Deus. Se você não tiver nenhuma conexão com o divino fica mais difícil porque aqui não é o paraíso mesmo.
Jornal Pampulha: Mas quem é seu Deus?
Zezé Motta: A natureza. Não é nenhum velhinho barbudo, não. É essa natureza, misteriosa.
Jornal Pampulha: Recentemente você foi incluída numa pré-seleção para possível candidata ao prêmio Nobel. Como recebeu isso?
Zezé Motta: Foi um projeto de um movimento de mulheres de São Paulo, para escolher mil mulheres do mundo inteiro para se candidatar ao prêmio Nobel. O projeto foi aprovado, e eu estava lá no meio (risos).
Jornal Pampulha: E qual foi sua reação?
Zezé Motta: Minha primeira reação foi pensar: meu Deus, com tantas mulheres no Brasil, por que eu? Depois, eu aceitei. Pelo menos reconheci que eu tenho me esforçado para cumprir a minha missão aqui nesse planeta. É através de movimento negro, através do Cidan, através das seis meninas que adotei...
Jornal Pampulha: Você adotou seis crianças?
Zezé Motta: Na verdade, três fazem parte da família já. E as outras foram chegando e eu deixei. Já estão todas criadas. Comigo só mora a caçulinha, que está com 20 anos, que é minha sobrinha mesmo, filha do meu irmão. Ela morava no interior da Bahia, ela é surfista e resolveu fazer uma faculdade de jornalismo. Como ela é de Itacaré, e ela não tem, ela veio morar comigo para fazer faculdade.
Jornal Pampulha: A maternidade foi importante para você?
Zezé Motta: Eu nunca pari. Era um grande sonho meu e eu realizei através dessas filhinhas do coração. Ter adotado essas seis foi muito importante. Eu sou do signo do Câncer. Sou mãezona mesmo. Adoro essa coisa de família. Domingo mesmo teve um almoço lá em casa com 12 pessoas porque o namorado de uma delas foi lá para me conhecer.
Bate-bola
Cantor: Emílio Santiago
Cantora: Maria Bethânia
Ator: Marco Nanini
Atriz: Marília Pera
Livro: "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro
Seu melhor CD: o primeiro ("Zezé Motta")
Filme: "Deus É Brasileiro", de Cacá Diegues
Música: "A Noite do Meu Bem", de Dolores Duran
Compositor: Luiz Melodia
Uma frase que define Zezé Motta: "Zezé Motta é uma guerreira"
No show, ela fez um apanhado dos discos que gravou. Além do repertório do último, "Divina Saudade", vai cantou aquelas que o "público gosta de ouvir": "Senhora Liberdade", "Dores de Amores" e "Magrelinha" são algumas delas. "A praia da Elizeth era a música romântica. Como era um show ao ar livre, não posso fazer algo tão romântico. Não combina com o clima. Peguei então algumas coisas animadas que Elizeth gravou, como ‘Mulata Assanhada´ e ‘É Luxo Só´, e incluí alguns dos meus sucessos", conta.
Novela da Globo
Este ano, Zezé Motta vai precisar se desdobrar para dar conta dos projetos. Foi convidada pelo diretor Jorge Fernando e pelo autor Walcyr Carrasco para participar da próxima novela das sete da Rede Globo, "Caras & Bocas". Revela que ainda não sabe nada sobre o personagem. "Só entro no capítulo 60. Como eles foram gravar na África do Sul, fiquei sem contato. Só vou saber algo do personagem quando a novela estrear. Mas já tive uma dica: uma pessoa da direção de arte encomendou uns acessórios afros para o meu personagem (risos)", diz.
Além da novela, Zezé vai estar no próximo filme de Xuxa, "O Mistério da Feiurinha". "É a terceira vez que trabalho com ela (Xuxa). Este filme é baseado num livro que está fazendo muito sucesso nas escolas. Nele, o autor juntou todas as princesas: Branca de Neve, Rapunzel, Gata Borralheira. A história faz uma visita a elas já casadas, com filhos. É muito divertido. Foi a própria Sasha (filha de Xuxa) que descobriu esse livro na escola e sugeriu à mãe para fazer o filme".
Além da atriz, a cantora prepara sua volta ao mercado fonográfico. No segundo semestre, grava o CD e DVD "O Samba Mandou me Chamar. "É um projeto de quatro anos. Eu estava na fila da gravadora Biscoito Fino. Ele ia ter inclusive a supervisão da Maria Bethânia. Mas Bethânia começou um trabalho, saiu viajando pelo mundo e abriu mão da supervisão. Agora fechei com a (gravadora) Rob Digital. Eles gostaram. O produtor vai ser o Paulão Sete Cordas, o mesmo de Zeca Pagodinho. O cara é pé-quente. Minha primeira ideia era fazer um disco de releituras. Mas recebi muito material inédito e mudei o foco. Estou com música de Nelson Sargento, Paulo César Pinheiro, Altayr Velloso, Serginho Meriti, Marquinhos PQD, Sérgio Procópio... Por aí vai (risos)".
Leia abaixo a entrevista na íntegra com Zezé Motta:
Jornal Pampulha: Há muito tempo você não canta em Belo Horizonte. Tem idéia de quando se apresentou aqui pela última vez?
Zezé Motta: (risos). É verdade. Estou animadérrima. Faz tanto tempo que não me lembro. Sinceramente não me lembro. Eu tenho a impressão que eu nem cheguei a fazer o "Divina Saudade", esse trabalho em homenagem a Elizeth Cardoso. Eu tenho a impressão que eu não fiz em Beagá. Olha que estou rodando com esse trabalho há seis anos. Se eu fiz em alguma festa privada. Mas eu estou tão esclerosada. Estou desde ontem (segunda-feira) pensando qual foi a última vez que fui a Belo Horizonte. Só olhando nas minhas agendas, que guardo, velhas (risos).
Jornal Pampulha: O que você está preparando para o show?
Zezé Motta: Eu vou fazer um apanhado dos meus discos. Eu estou há seis anos sem um trabalho novo. O último trabalho foi o "Divina Saudade". É um trabalho belíssimo, mas eu tenho a frustração de que foi mal distribuído. Eu consegui fazer "Hebe Camargo", "Sem Censura", "Jô Soares", todos os programas de audiência, mas aí depois as pessoas não encontravam nas lojas. Infelizmente. Isso acontece. Então, mas esse disco é um trabalho muito romântico. Mais de 50% do CD é música romântica porque era a praia da Elizeth Cardoso. Mas tem as coisas também animadas, que Elizeth também gravou: "Mulata Assanhada", "É Luxo Só", "Barracão"... Eu peguei as coisas mais animadas do "Divina Saudade", porque o show é o ar livre, não pode ser um show tão romântico, senão não combina com o clima. Mas vai ter alguma coisa romântica porque sou romântica (risos). Mas é um mix. Eu tenho umas seis músicas desse último projeto e tenho aquelas músicas que eu sei que o público gosta de ouvir, que vão pedir e que não tem jeito, tem que cantar: "Senhora Liberdade", "Dores de Amores", que a galera não dispensa, o "Malegrinha", do Luiz Melodia. É um mix. Tem uma ou duas músicas de cada álbum meu.
Jornal Pampulha: Você está voltando para a TV agora. Foi convidada para participar da próxima novela das 19h da Rede Globo ("Caras & Bocas"). Qual vai o personagem na novela?
Zezé Motta: (risos) Eu não sei nada sobre o personagem. Eu só sei que o Jorge Fernando (diretor) me convidou, e o Walcyr Carrasco (autor). São duas pessoas que eu admiro e confio. Eu não sei nada porque a novela já está sendo gravada, mas o meu personagem entra só no capítulo 60. Como eles foram lá para a África do Sul para gravar, ficamos sem contato. Eu acho que só vou saber de fato alguma coisa do personagem quando estrear a novela em abril. É quando o Jorge e o Walcyr vão ficar mais tranquilos para a gente poder conversar sobre meu personagem. Agora, eu já tive uma dica: uma pessoa da direção de arte encomendou uns acessórios afros para o meu personagem (risos). Eu nem sei ainda o nome do personagem. Vai ser um ano bem agitado pra mim...
Jornal Pampulha: Quais são seus outros projetos para este ano?
Zezé Motta: Eu vou fazer o próximo filme da Xuxa. Vou trabalhar com ela pela terceira vez. Nós fizemos "Duendes 2" e há três anos fizemos "A Cidade do Tesouro Perdido". Foi uma participação muito bonita. O filme abria comigo e o Milton Gonçalves perdidos procurando a tal da cidade. Foi uma homenagem bonita. Agora, a Xuxa vai fazer o "Mistério de Feiurinha", que é um roteiro muito interessante. É baseado num livro que está fazendo muito sucesso nas escolas. Nele, o autor juntou todas as princesas: Branca de Neve, Rapunzel, Gata Borralheira. E a história faz uma visita a elas já casadas, com filhos. É muito divertido. Foi uma história que a própria Sasha descobriu na escola, sugeriu, e é muito boa.
Jornal Pampulha: Qual vai ser seu papel?
Zezé Motta: Nesse eu sei (risos). Tem um personagem que vai ser feito pelo Antonio Pedro. Eu sou meio que assessora dele. Eu meio que conto a história junto com ele. E aí tem um mistério que eu vou desvendar que eu não posso cantar porque meio que o final do filme (risos). Eu sou co-narradora, assessora do escritor da história que é o Antonio Pedro.
Jornal Pampulha: E quais seus outros projetos?
Zezé Motta: Vou lançar um CD e DVD. Não sei aonde vou arranjar tempo pra tudo isso (risos). Vai se chamar "O Samba Mandou me Chamar". Esse é um projeto de quatro anos. Mas eu estava sem gravadora. Eu estava na fila da Biscoito Fino. Ia ter inclusive supervisão da Maria Bethânia. Aí, ela começou um trabalho, saiu viajando pelo mundo, abriu mão da supervisão e me falou pra ir em frente. Mas não rolou. Agora vou gravar pela Rob Music. Dessa vez está sacramentado. Eles gostaram do projeto. Já vou conversar em abril com o produtor, que vai ser o Paulão Sete Cordas, o mesmo produtor de Zeca Pagodinho. O cara é pé-quente (risos). Estou super-animada. As pessoas ficam me perguntando como dou conta de tanta coisa (risos).
Jornal Pampulha: Como?
Zezé Motta: Eu acho que é uma questão mesmo de você ter uma boa equipe, um bom empresário e muita disciplina. Eu, por exemplo, meu dia rende muito porque eu acordo muito cedo. Todos os dias, às seis da manhã, eu pulo da cama (risos). No máximo, sete horas. A não ser quando eu faço show mais tarde, aí muda tudo.
Jornal Pampulha: Voltando ao "Samba Mandou me Chamar". O repertório será só de inéditas?
Zezé Motta: A primeira idéia era de fazer releituras. Mas eu comecei a receber tanto material bom inédito, que eu mudei o foco. Agora vou conversar com o novo produtor. Talvez tenha uma releitura. Mas ainda não sei.
Jornal Pampulha: Quem te mandou material inédito?
Zezé Motta: Nós fizemos uma feijoada, há quatro anos, para 200 pessoas. Convidamos todos os compositores de samba do Rio de Janeiro. E eu fiquei muito emocionada porque quase todos compareceram, a não ser os que estão viajando, com algum impedimento. Estou com música de Nelson Sargento, Paulo César Pinheiro, Altayr Velloso. Tem também uma galera mais jovem, como Serginho Meriti, Marquinhos PQD, Sérgio Procópio, por aí vai (risos). Está bem recheado. O DVD vai ser pelo Canal Brasil. Ainda não tenho data, mas com certeza será no segundo semestre. A gravação vai ser no teatro Rival.
Jornal Pampulha: Pensou em convidados?
Zezé Motta: Tudo isso vou ter que sentar e discutir. Pensei em Emílio Santiago, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila... Mas não tem nada decidido. Depende muito da agenda de cada um.
Jornal Pampulha: Tem saído nos jornais que a Taís Araújo vai ser a primeira protagonista negra de uma novela de horário nobre da maior emissora do país (na novela "Viver a Vida", de Manoel Carlos). O que você achou disso?
Zezé Motta: Eu vibrei. Eu fico muito feliz com essa notícia e duplamente emocionada até porque há 30 anos que luto por isso. Enquanto militante do movimento negro e presidente da Cidan (que é o Centro de Informação e Documentação do Artista Negro) estou nessa expectativa faz algum tempo. Para mim, é uma coisa emocionante porque já há algum tempo o Gilberto Braga (autor de novela) tentou que eu fosse protagonista de uma novela dele, mas no meio do caminho a sinopse não foi aprovada. Mas não precisa ser eu. Não importa. O importante é a gente ter uma atriz negra. Não precisa ser a Zezé Motta. Mas eu me lembro que naquela época fiquei muito frustrada. Isso foi em 1984. Aí, ele escreveu (a novela) "Corpo a Corpo") e me deu um papel de destaque. Eu fazia uma paisagista, que causou bastante polêmica... Agora, tenho certeza que a Taís vai fazer um belo trabalho porque ela é muito boa atriz.
Jornal Pampulha: Na época de "Corpo a Corpo" alguns telespectadores chegaram a criticar o fato de um branco (o personagem do ator Marcos Paulo) estar se relacionando com uma negra. Alguns sugeriram ao ator lavar a boca com água sanitária depois de te beijar em cena. Como foi aquilo?
Zezé Motta: Foi uma coisa muito violenta. Foi feita uma pesquisa na época sobre o que as pessoas achavam daquele casal mutirracial. E as reações foram inesperadas para todos nós: para o autor, para mim e para o próprio Marcos Paulo. O Marcos chegava em casa e encontrava recados horrorosos na secretária eletrônica dele, perguntando qual era a dele de estar passando por aquela humilhação. Teve um rapaz que disse não acreditar que o Marcos Paulo estivesse tão necessitado de dinheiro para se submeter àquilo.
Jornal Pampulha: Mas você acha que melhorou, o negro tem papel de destaque nas novelas?
Zezé Motta: As coisas estão mudando, sim. Devagarinho, mas estão. Essa coisa também de papéis diversificados é fundamental. Até para trabalhar não só a auto-estima da comunidade negra, mas também para o público se acostumar. Às vezes, o público estranha. Não foi a primeira vez que o público rejeitou um casal multi-racial. Lá atrás, eles já tinham rejeitado um casamento do Zózimo Bubu, na extinta TV Tupi, com Leila Diniz. A TV Tupi mudou o enredo e o Zózimo teve que casar com a Evita Nascimento. Essa estranheza é a própria mídia que impõe. Mas as coisas estão mudando. Eu já percebo que os autores estão preocupados em diversificar papéis. Eu mesmo já fui empresária, dona de casa... Essa coisa agora de o negro ter uma família nas telenovelas é um avanço. Antigamente, os personagens negros viviam a reboque dos personagens brancos, e eles não tinham uma história. Eles não tinham família, não tinham pai, mãe, filho, marido...
Jornal Pampulha: Mas e, em termos de preconceito na sociedade. Você tem notado avanços ou tem consciência de que as portas se abrem para você, uma negra, só porque é a Zezé Motta?
Zezé Motta: Eu tenho essa consciência. Essa questão no Brasil é uma mancha horrorosa de séculos e que não se apaga assim, com facilidade. Eu acho que a gente vai ter aí algumas gerações para resolver isso. Ainda mais que é um racismo velado. É muito complicado.
Jornal Pampulha: Mas, no seu caso, qual foi o episódio mais traumático?
Zezé Motta: São tantas histórias. Já tive comercial rejeitado pela loja. A agência me escolheu, a loja me pagou, mas o outdoor não foi para a rua. Eles disseram que a clientela da loja era classe média, e que a classe média era preconceituosa, e não ia aceitar a sugestão de uma negra. Nas relações afetivas isso também é muito complicado. Já tive problemas de ter um namorado branco e a família aceitar porque eu era amante, concubina, ou sei lá que nome eles quisessem dar... Morávamos juntos, e o rapaz quis oficializar a relação, mas a família criou o maior rebu. Já me apontaram o elevador dos fundos... É complicado.
Jornal Pampulha: Na sua trajetória, o seu papel mais importante foi mesmo "Xica da Silva"?
Zezé Motta: Sem dúvida. "Xica da Silva" foi um divisor na minha vida e na minha carreira. Até hoje as pessoas comentam. Tem gente que chega para mim e fala que a Taís (Araújo, que viveu a personagem numa novela da extinta TV Manchete) fez muito bem, mas que a Xica sou eu (risos). Realmente foi um marco. É um personagem muito forte, muito carismático. Você vê que o personagem mudou a vida da Taís também.
Jornal Pampulha: E, curiosamente, Xica era uma mineira...
Zezé Motta: Pois é. Por conta desse personagem muita gente pensa que sou mineira.
Jornal Pampulha: Este ano você completa 65 anos. Como lida com essa questão do tempo?
Zezé Motta: De bem com a vida. Mas é uma coisa também muito característica do negro. Meu avô materno morreu com 70 anos sem nenhuma ruguinha. A minha mãe tem 85 anos e é uma menina (risos). É animada, disposta, faz hidroginástica, vai a igreja todos os dias, caminha, faz parte de grupo de terceira idade. Eu vou na cola dela porque eu quero ficar bem como ela está aos 65 anos. Mas confesso que eu tinha umas bolsas que herdei da minha mãe, tinha um inchaço nas pálpebras. Essas bolsas me envelheciam e me davam um ar de cansaço. Eu já me liberei delas. Porque agora com a TV digital a gente tem que ficar atenta. Mas eu cuido da saúde também. Eu moro na lagoa, caminho fim de semana, oito quilômetros, dou a volta inteira na lagoa, faço pilates, faço dieta e por aí vai...
Jornal Pampulha: Você é religiosa, acredita em Deus?
Zezé Motta: Eu sou kardecista e tenho dito que a minha religião é Deus. Se você não tiver nenhuma conexão com o divino fica mais difícil porque aqui não é o paraíso mesmo.
Jornal Pampulha: Mas quem é seu Deus?
Zezé Motta: A natureza. Não é nenhum velhinho barbudo, não. É essa natureza, misteriosa.
Jornal Pampulha: Recentemente você foi incluída numa pré-seleção para possível candidata ao prêmio Nobel. Como recebeu isso?
Zezé Motta: Foi um projeto de um movimento de mulheres de São Paulo, para escolher mil mulheres do mundo inteiro para se candidatar ao prêmio Nobel. O projeto foi aprovado, e eu estava lá no meio (risos).
Jornal Pampulha: E qual foi sua reação?
Zezé Motta: Minha primeira reação foi pensar: meu Deus, com tantas mulheres no Brasil, por que eu? Depois, eu aceitei. Pelo menos reconheci que eu tenho me esforçado para cumprir a minha missão aqui nesse planeta. É através de movimento negro, através do Cidan, através das seis meninas que adotei...
Jornal Pampulha: Você adotou seis crianças?
Zezé Motta: Na verdade, três fazem parte da família já. E as outras foram chegando e eu deixei. Já estão todas criadas. Comigo só mora a caçulinha, que está com 20 anos, que é minha sobrinha mesmo, filha do meu irmão. Ela morava no interior da Bahia, ela é surfista e resolveu fazer uma faculdade de jornalismo. Como ela é de Itacaré, e ela não tem, ela veio morar comigo para fazer faculdade.
Jornal Pampulha: A maternidade foi importante para você?
Zezé Motta: Eu nunca pari. Era um grande sonho meu e eu realizei através dessas filhinhas do coração. Ter adotado essas seis foi muito importante. Eu sou do signo do Câncer. Sou mãezona mesmo. Adoro essa coisa de família. Domingo mesmo teve um almoço lá em casa com 12 pessoas porque o namorado de uma delas foi lá para me conhecer.
Bate-bola
Cantor: Emílio Santiago
Cantora: Maria Bethânia
Ator: Marco Nanini
Atriz: Marília Pera
Livro: "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro
Seu melhor CD: o primeiro ("Zezé Motta")
Filme: "Deus É Brasileiro", de Cacá Diegues
Música: "A Noite do Meu Bem", de Dolores Duran
Compositor: Luiz Melodia
Uma frase que define Zezé Motta: "Zezé Motta é uma guerreira"
Fonte: Jornal Pampulha
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